SOBRE PAPAS E PASTORES MIRINS
- PENSE NISSO Teológica
- 9 de mai.
- 4 min de leitura

Qual a perspectiva luterana sobre o papado?
Qual a opinião luterana sobre o discurso pentecostal dos que pregam em nome próprio, dizendo-se guiados pelo Espírito?
O papado é o principal assunto dos grandes jornais do mundo neste maio de 2025. A morte de Francisco e a escolha de Leão XIV como novo papa da Igreja Romana destaca-se na mídia; enquanto nas redes sociais brasileiras, fala-se muito de um “pastor mirim” chamado Miguel, de apenas 15 anos. Miguel repetia em suas pregações uma expressão que viralizou: “Of the King, the power, the best”.
Menciono essas duas situações e manifestações religiosas porque minha confissão de fé se distingui de ambos. A perspectiva cristã luterana entende que a fé escriturística (baseada na Bíblia) não está nem lá nem ali!
Na confissão de fé da igreja luterana há três colunas principais, ou três premissas essenciais: Somente a Escritura (Sola Scriptura), Somente pela Graça (Sola Gratia) e Somente por meio da fé (Sola fide). A premissa “Somente a Escritura” nos previne contra doutrinas que se fundamentam em opiniões e tradições humanas. Tanto a teologia romana, que se baseia e confia na palavra e nas bulas papais, como também a teologia pentecostal que se baseia em lideranças que se auto intitulam guiadas pelo Espírito e fundam novas igrejas aqui e ali, acabam se desviando da palavra de Jesus expressa e centralizada nas Escrituras.
É histórico que, ao logo do tempo, muitos papas, independente de serem mais conservadores ou mais progressistas, se desviaram das Escrituras, decretando vários ensinos contraditórios e opostos a Bíblia, como por exemplo: a adoração aos santos, o purgatório e a famosa busca de lucro pela venda do perdão dos pecados (indulgências). O comércio de indulgências aconteceu em diferentes épocas, mas curiosamente foi intensificada no século XVI, com o evidente objetivo de conseguir dinheiro para a construção da basílica de São Pedro (iniciada em 1506), para a qual o mundo dirigiu seus olhos durante esse último conclave. Aliás, foi um outro papa com o título de Leão, chamado Leão X, que viveu na época de Lutero e emitiu bulas fomentando esse comércio através de um grande marqueteiro da época, chamado Johann Tetzel.
Atualmente há uma guerra nas taxações de produtos. A China e os Estados Unidos são protagonistas. Na Idade Média, taxações das famílias dos “Médices” e dos “Fugger”, patrocinavam imperados e o clero.
Nós, luteranos, exultamos quando o líder da igreja do Vaticano, permanece humilde e subordinado a Jesus, pelas Escrituras. Por isso nossa palavra não é a favor ou contra esse ou aquele papa, mas somos contrários a formulação da instituição do papado, pois várias vezes usurpou o lugar de Deus (2 Ts 2.4).
Enquanto a Igreja romana se apega ao relativismo das vontades humanas, por vezes mais fundamentalistas e por vezes mais liberais; há um
outro grupo, que em sua época Lutero chamou de entusiastas, que se autodenominam iluminados pelo Espírito a despeito das Escrituras. O pregador mirim (Miguel), assim como outros dessa época, se assemelham aos entusiastas do século XVI, pois evocam uma autoridade em si mesmos, proclamam prosperidade e ditam regras próprias. Saem gritando: “Está amarrado... Eu declaro isso e aquilo... ou Of the King, the power, the best”. Ou seja; têm uma similaridade com os vendedores de indulgências, porém, ao invés de estarem alicerçados em bulas papais, estão alicerçados no ministério do fulano ou do ciclano - autoridade própria! Assim, em nome da prosperidade, esquecem a cruz, ocultam Jesus e rejeitam a Pedra Angular!
Toda vez que um discurso religioso é feito, distante da firme e eterna palavra de Jesus, há uma casa sendo construída sobre a areia. (Mt 7.26-27). Todo aquele que ouve (ou lê) a Palavra de Deus, e a pratica (ensina e vive segundo ela), é semelhante a um homem que construiu a sua casa sobre a pedra (Mt 7.24). Essa pedra é Cristo (Ef 2.20).
Como luteranos, não vemos nenhum problema na instituição romana ter o seu líder maior. Reconhecemos o papa como líder dessa denominação com sede no Vaticano. Porém não reconhecemos como o cabeça da Igreja. Pois Jesus é o Cabeça (Cl 1.18). Não reconhecemos como pedra angular. A pedra angular é Jesus (Ef 2.20-22)! E denunciamos que assim como os fariseus e o sumo sacerdote da época de Jesus (Caifás) estavam rejeitando a pedra angular (At 4.11); também o Vaticano rejeita a Pedra Angular pela maneira como estabelece a instituição papal. Consideramos um erro de interpretação usar Mateus 16.13-20 para considerar a pessoa de Pedro a pedra sobre a qual Cristo edificou a Igreja. Entendemos que a pedra não é a pessoa de Pedro, mas a confissão de Pedro. Isto é, a resposta de Pedro escrita em Mateus 16.16 que diz: “O Senhor é o Cristo, o filho do Deus Vivo”.
Quando Jesus disse: “sobre ESTA pedra edificarei a minha Igreja” (v.18) o referente do pronome demonstrativo (ESTA) é a resposta que Pedro deu e não a pessoa de Pedro. No texto original, em grego, isso fica ainda mais evidente! Menciono Mt 16 porque é a base da instituição do papa como substituto de Pedro. A confissão de Pedro (Mt 16.16), é o resumo da Escritura, o centro da Palavra de Deus. Jesus é o Cristo Salvador, prometido pelo Antigo Testamento. Deus criou o mundo por meio do Verbo (Palavra) e edificou sua Igreja sobre esta mesma Palavra. Jesus é o verbo que se fez carne. Jesus é a Palavra que se fez gente (Jo 1.14). Em resumo. Ele é a Pedra Angular rejeitada pela aristocracia sacerdotal de sua época, liderada por Caifás, e muitas vezes rejeitada ainda hoje!
Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por meio dele (Jo 14.6).
Nossos pilares e nossos solas (Sola Scriptura, Sola fide e Sola Gratia), se unem e apontam para um outro Sola. SOMENTE EM CRISTO! Toda honra e glória a Ele, o único e suficiente Salvador!
Pastor Ismar Lambrecht Pinz
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