Cada pessoa vive em alguma cultura. Essa cultura exerce influência no seu viver, pensar, agir e também na sua crença. Essa era a realidade na cidade de Colossos.
Paulo não conheceu pessoalmente os cristãos colossenses, onde Epafras iniciou o trabalho. E, esse, preocupado com os problemas relacionados à vida espiritual dos colossenses, viajou até Roma, lugar onde Paulo estava preso, para considerar os assuntos com o apostolo. Epafras se submeteu à prisão voluntária para ficar perto de Paulo (Fm 23). Onesímo, o escravo fugitivo, estava sendo discipulado nesse tempo, por isso Epafras é citado na carta a Filemon e também pelo fato da igreja de Colossos se reunir na casa de Filemon (Fm 2). Junto a eles estava ainda Aristarco. Uma reunião com muitos assuntos a serem abordados.
Ao refletir sobre os problemas provenientes da influencia cultural dos colossenses, Paulo enviou duas cartas aos irmãos do Rio do Lycus (Rio Lico - Colossos, Laodicéia, Hierapolis), a carta aos Colossenses e aos Laodicenses (Cl 4.16, essa é uma carta perdida).
Os cristãos em Colossos estavam expostos ao perigo das filosofias pagãs (dualismo, ascetismo, espiritismo, superstições idólatras) e, além disso, ensinamento sobre abstinência de certos alimentos e observância de dias e regras do judaísmo (Cl 2.4, 8, 16,20-23).
Essas filosofias pagãs e requisitos judaicos estavam pressionando os cristãos colossenses e, muitos estavam abandonando a fé cristã.
A carta aos colossenses é um encorajamento para que os cristãos se devotem a Jesus. O objetivo era corrigir alguns erros doutrinários e práticos que estavam ameaçando sorrateiramente aquela comunidade cristã.
Epafras realizou a atuação de um agente comunicador - tipo de fiscal que vê e avisa. Por causa desse aviso, Paulo soube o que combater e assim escrever a carta.
O capítulo 1.1-23 é um poema ao Messias exaltado - Jesus. Paulo agradece pela fé dos colossenses e ora por sabedoria e pela conversão dos colossenses. Os versos 15-20 é um poema a Cristo trazendo a memoria imagens de Gn 1; Ex 40; Sl 2; 8; 68 e Pv 8 e assim, o apostolo destaca que Cristo é o Messias criador e que por sua obra da redenção traz uma nova criação. Pela morte e ressurreição de Jesus, Deus reconciliou-se com o mundo que pela falsa ideia dualista parecia não poder ser reconciliada.
As cartas de Paulo aos Romanos, Efésios e Colossenses destacam o tema a respeito da igreja. Aos Romanos, a igreja é apresentada com muitos membros e muitos dons. Na carta aos Efésios e Colossenses a igreja é um corpo com um só cabeça. Em Efésios a ênfase da igreja está nela como corpo e na carta aos Colossenses a ênfase está no cabeça da igreja que é Cristo (Cl 1.18).
Por acolherem as mais variadas filosofias, na expectativa de entender e explicar o mundo espiritual, os colossenses desenvolveram uma concepção de mundo chamada dualismo.
Dualismo é a distinção firme entre Reino Espiritual e Reino Material. O Reino Espiritual é bom e o Reino Material é ruim e mal. O ser divino não criaria um reino físico maligno, pois o contato com esse reino contaminaria o ser divino. E a pergunta era: - como reconciliar esse espírito mal com Deus? Daí era necessário observar requisitos tais como a lei judaica prescrevia. Para eles, Paulo escreveu: “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Cl 1.15-20). Enquanto os colossenses em suas filosofias e crenças judaicas respondiam que sua libertação desse reino material estava fora de Cristo, o apostolo Paulo elenca duas palavras que são únicas no Novo Testamento – Redenção e Relacionamento – para destacar a salvação em Cristo (Cl 1.15-23).
A palavra redenção é fundamental na Escritura. Compreende toda a história da salvação. Redenção é a tradução do termo lytrosis ou apolitroses e significa resgate, libertação mediante pagamento, soltura de quem estava preso por uma dívida não paga.
O sentido teológico dessa palavra é bem mais amplo. Os israelitas, após saírem do Egito, não permaneceram indefinidamente no deserto, mas entraram em Canaã, a terra da promessa. Assim, os cristãos, após serem libertos da escravidão do pecado, da morte e de Satanás, são chamados a abandonar o estado de servidão para entrar na condição de filho e herdeiro. “Fomos transportados” de um reino para outro reino, do poder das trevas para o poder de Deus (At 26.18).
Deus não se contaminou ao vir para este mundo, pelo contrário, redimiu o mesmo e em Jesus, “reconciliou consigo todas as coisas” (Cl 1.20).
A palavra reconciliação não é tão comum no Novo Testamento. É empregada apenas por Paulo em cinco textos (Rm 5.10,11; 11.15; 2Co 5.18-20; Ef 2.14-17; Cl 1.19-22) em conexão com o relacionamento entre Deus e os homens.
Reconciliação é uma palavra chave, pois é a substância do evangelho. Reconciliação é a mensagem central do evangelho – descreve a obra salvífica que Deus realizou em Jesus.
Reconciliar significa unir novamente pessoas que antes estavam separadas. E o fato é que Deus, a parte ofendida, quem toma a iniciativa (2Co 5.19). Deus é o reconciliador. Dessa forma, não é o que eu posso fazer para ser salvo, mas, aceitar pela fé a reconciliação (2Co 5.20; Cl 2.16-17).
É preciso recordar que há inimizade entre Deus e os homens, todos são objetos da hostilidade divina, então, não há o que eu faça que me aproxime de Deus. Ele se aproximou de mim em Cristo e é mediante a fé, presente de Deus (Ef 2.8) que agrado a Deus (Hb 11.6).
Estou reconciliado com Deus! Mesmo sendo assim tão pecador, estou em paz com Deus. Essa paz foi estabelecida “pelo sangue da sua cruz” (Cl 1.20; Rm 5.20; Ef 2.16). Da cruz, de onde os pecadores ouviram a oração do autor da paz, da redenção, da reconciliação: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem” e também aos que creem: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Amém!
Rev. Edson Ronaldo Tressmann
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