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Humildade em Cristo

Jo 1.6-8;19-28


A humildade é algo de muito valor para os relacionamentos humanos. E humildade tem a ver não necessariamente com a condição social ou financeira, mas sim com um modo de vida; com um modo de comportamento. É o contrário do orgulho e da soberba, que trazem tantas dificuldades para a convivência.


Não por acaso, humildade é algo fundamental no Reino de Deus estabelecido por meio de Jesus. No cântico de Maria, que ela entoa quando visita sua prima Isabel, ela é inspirada pelo Espírito Santo a dizer que Deus “contemplou na humildade da sua serva” ao torná-la mãe do Salvador (Lc 1.48). E de acordo com isso ela diz que Deus “derribou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1.52). Mais tarde, no sermão do monte, Jesus afirma que são bem-aventurados os pobres de espírito e os mansos, porque deles é o reino dos céus (Mt 5.3,5).


De acordo com isso, a humildade é uma característica essencial de João Batista. No texto do Evangelho de Marcos, vemos que ele vivia uma vida simples, com o mínimo necessário, se vestindo com roupas feitas de pelos de camelo e se alimentando de mel do campo. No entanto, para além dessa simplicidade externa, chama muito mais a atenção a humildade que ele tinha em seu coração e em sua mente, manifestada no testemunho que ele dá a respeito de si mesmo e de Jesus. Conforme relata o texto do evangelho de hoje, quando os judeus enviaram alguns representantes deles para perguntar a João Batista quem ele era, ele tratou de deixar claro que não era o Cristo, o Messias que era esperado (v.20). Ele também disse que não era o profeta Elias nem o profeta do fim dos tempos que era aguardado pelos judeus (v.21). Para ele, bastava ser reconhecido como a voz que clama no deserto, anunciada por Isaías (v.23).


Referindo-se a Jesus Cristo, João Batista disse: “no meio de vós, está quem vós não conheceis, o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias” (v.28). A tarefa de tirar as sandálias de outra pessoa era algo que cabia somente a um escravo. Ou seja, João Batista afirmou que não era nem mesmo digno de ser escravo de Jesus. 

João Batista tinha essa opinião humilde e reverente diante de Jesus porque ele tinha consciência de que foi enviado como mensageiro de Deus não para chamar a atenção para si mesmo, mas sim para Jesus. Como diz o Evangelista, ele não era a luz, mas veio para falar a respeito da luz (v.8,9). Ele tinha a consciência de não ter a missão nem mesmo a capacidade de ser a luz, o salvador do mundo. Essa função cabia somente àquele que viria depois dele, para ser o Messias prometido.


Desse modo, queridos irmãos e irmãs, é esta mesma convicção e comportamento criado por Deus em João Batista que ele cria em nós, a quem ele chamou das trevas para a luz. Como já dito, o reino dos céus pertence aos pobres e humildes de espírito. Ou seja, o reino dos céus é dado àqueles que não têm nada para oferecer a Deus. Por isso, a primeira coisa que Deus faz em nós quando nos chama das trevas, para a luz, por meio de Jesus, é produzir esta humildade; é nos convencer de que nós não somos nada além de miseráveis pecadores, dignos de condenação. Assim como João Batista, somos levados a confessar que não somos dignos nem mesmo de desatar as correias das sandálias de Jesus, ou seja, que não somos dignos nem mesmo do mínimo respingo do amor de Deus. Também como fez com João Batista, Deus nos leva a confessar que nós não somos o Cristo, isto é, que nós não podemos fazer nada para a nossa salvação.


A partir disso, produzindo esta humildade em nós, Deus então abre espaço em nossos corações, prepara o caminho para que o Salvador entre neles. Através da mesma Palavra que Deus usa para destruir o nosso orgulho e mostrar o nosso pecado a fim de nos levar à humilde confissão de nossa condição, ele também mostra que há uma luz enviada ao mundo para iluminar os corações dominados pelas trevas do pecado.


Conforme o texto de Isaías, Jesus diz: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados... a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado” (Is 61.1,3). Eis que Deus produz em nós a humildade do reconhecimento de nossa miséria para que recebamos toda consolação que ele preparou e concretizou no filho enviado ao mundo. Pois ele veio para consolar, curar, libertar e exaltar exatamente os quebrantados, os cativos, os humilhados e angustiados.


E esta mensagem nós somos chamados a viver e anunciar. Assim como João Batista foi enviado para falar a respeito da luz, nós também somos enviados como mensageiros da luz de Jesus. E tendo nos tornado seus mensageiros, Deus nos convida a dizer não para a nossa velha natureza, que nos leva a ter uma postura apenas reprovadora e julgadora dos outros enquanto procuramos exaltar nossas qualidades e virtudes; e nos convida a dizer sim para a sua graça infinita, que está disponível para todos os pecadores. Ele nos convida a deixar de lado nossas opiniões sobre como as coisas têm que ser e como devem ser nossas vidas e a seguir aquilo que o Evangelho diz. Ele também nos convida a aproveitar todas as oportunidades não para criticar e apontar o dedo para o próximo devido aos erros que ele comete, mas sim para apontar o dedo para Jesus, testemunhando a respeito de tudo o que ele fez e continua fazendo para perdoar e salvar. Ele nos convida não para fazer as pessoas chorarem e sofrerem ainda mais com seus problemas, mas sim para colocarmo-nos ao lado delas e para falar que Jesus está com elas, assim como João Batista falou para os judeus que Jesus estava no meio deles (v.26).

Fica claro portanto que a verdadeira humildade não é algo que nós possuímos desde o nascimento ou algo que podemos buscar e alcançar. A verdadeira humildade só pode ser produzida por ele. É por isso que Paulo diz ser um fruto do Espírito Santo (Gl 5.23).


O Espírito Santo nos fez ser humildes no dia do Batismo, quando nos conduziu até Jesus. No entanto, bem sabemos que a nossa velha natureza continua repleta de orgulho. Por isso, sempre de novo, Jesus Cristo nos convida para, por meio da Palavra e da Santa Ceia, recebermos a ele, pois ele o único verdadeiramente manso e humilde de coração (Mt 11.29). Ele é o Rei humilde, que nasceu numa manjedoura, cujo nascimento foi anunciado aos pastores do campo, que viveu uma vida simples e por fim morreu uma morte cruel. Desse modo, alimentando-nos com a sua graça e o seu favor imerecidos, ele faz com que permaneçamos humildes no relacionamento com o próximo. Em nome dele, que assim seja. Amém!




Rev. Timóteo Felipe Patrício


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