Na saída da cidade sempre há alguém esperando por carona. A expectativa do caroneiro e que passe alguém conhecido e o leve até o destino.
Todos os anos milhares de pessoas passavam por Jericó rumo a Jerusalém. Das sete festas, Páscoa (lv 23.4-5); Pães Asmos (Lv 23.6-8); Primícias (Lv 23.9-14); Pentecostes (Lv 23.15-25); Trombetas (Lv 23.23-25); Expiação (Lv 23.26-32); Cabanas (Lv 23.33-44); em três (Sucot, Shavuot, Pessach), cada homem judeu precisava se dirigir ao Templo.
Jesus, seus discípulos e muitas outras pessoas estavam subindo para Jerusalém. Jericó era a ultima oportunidade para as caravanas se abastecerem das provisões e seguir viagem. Estavam a 25 km de Jerusalém, numa subida de 1.000 metros.
Após passar um dia em Jericó, Jesus e muitos outros seguem viagem. Na saída da cidade, como sempre, havia pessoas deficientes esperando alguma esmola. João Marcos relata sobre um deles, Bartimeu (Mc 10.46).
Esse homem era cego! E os cegos eram tidos como os mais fracos e necessitados entre o povo. A lei de Deus dava uma proteção espacial a eles (Lv 19.14; Dt 27.18). Qualquer israelita piedoso socorria um cego (Jó 29.15).
Pedir esmola significava pedir justiça. A palavra hebraica esmola (tzedakah) deriva de justiça (tzedek). Quando uma pessoa pedia esmola gritava por tzedakah, os ouvidos judeus entendiam: “faça justiça! Cumpra a Torá”. Quando alguém não dava esmola era como não cumprir a Torá, ou seja, era estar fora do caminho de Deus.
O fato é que esse homem que pedia esmola ouviu alguém dizer que a pessoa que estava passando ali era Jesus de Nazaré (Mc 10.47). Abro parênteses para indicar a importância do testemunho. Essa pessoa apenas informou para um curioso que queria saber quem estava vindo cercado por uma multidão, e ao falar que era Jesus de Nazaré, Bartimeu, apenas cego fisicamente, fez uma bela confissão: “Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim!” (Mc 10.47).
Muitas pessoas repreenderam e o mandaram calar a boca. Qual seria o motivo para querer silenciar esse homem? Seria indiferença social? Pode até ser. Afinal, a insensibilidade social persiste até os dias de hoje.
No entanto, eu acredito que o motivo de quererem silenciar Bartimeu era que não reconheciam Jesus assim como Bartimeu. Em outras palavras, cegos, eram milhares que compunham aquela multidão.
O grito de Bartimeu revela sua expectativa messiânica. Era como alguém esperando uma carona e sabe que aquele que o daria carona está passando.
O cego estava vendo e revelou com seus gritos o que a multidão não via. Jesus era o Messias aguardado pelo povo. Ele estava indo para Jerusalém para ser o sacrifício perfeito de Deus em prol do ser humano.
Jesus ouviu seu clamor e entendeu sua confissão de fé e pediu que o chamassem (Mc 10.49). Jesus anunciou a cura (Mc 10.52).
Cada judeu clamava três vezes por dia por misericórdia e por esse clamor entendiam que um dia seria restabelecido o reinado da casa de Davi. Interpretavam que de acordo com as palavras do Salmo 146.8, quando isso ocorresse, curaria o mundo começando pelos cegos (Is 29.18; 35.5). Por isso, quando João Batista teve dúvidas e mandou seus discípulos fazerem perguntas a Jesus, este recomendou que dissessem a João Batista que “os cegos vêem” (Mt 11.5).
Bartimeu cego viu o que os olhos sãos não conseguiam ver. Depois de curado, seguiu o caminho, o qual não podia seguir estando cego.
Bartimeu! Cego, mas, cheio de expectativa! E sua expectativa não era cega.
Por falar em expectativa, observe que Tiago e João (Mc 10.37) tinham uma expectativa meramente humana em Jesus, tanto que Jesus responde dizendo para eles: “não sabeis o que pedis” (Mc 10.38). Em oposição a Tiago e João, temos o relato de Bartimeu, onde Jesus faz a mesma pergunta que já havia feita para Tiago e João, “que queres que eu te faça” (Mc 10.36,51). No entanto, a resposta parte de uma expectativa diferente. Enquanto Tiago e João queriam destaque (Mc 10.37), Bartimeu queria apenas que sua expectativa, ou seja, que o Filho de Davi, o Messias realizasse a cura do mundo, começando pelo cego.
Na saída da cidade sempre há alguém esperando por carona. A expectativa do caroneiro e que passe alguém conhecido e o leve até o destino. Bartimeu parado na beira do caminho esperando uma esmola para sobreviver, ao deparar-se com Jesus e curado por ele, passou a seguir Jesus até o destino final, a cruz. E na cruz, Jesus é a luz do mundo! Amém!
Rev. Edson Ronaldo Tressmann
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