Embromadinho

Embromar significa enganar, passar para trás. Brumado é um lugar coberto de bruma, de mato baixo. Hoje não é mais Brumadinho, é Brumadão, lugar coberto pela devastação, cidade embromada, enganada, arrasada. Que agora vive a morte. Hoje as palavras não valem nada para descrever a desolação, a dor, a indignação. Resta desenterrar para enterrar, desconstruir para reconstruir, e sofrer para aprender. Mas, Mariana não bastou como exemplo?

No Brasil são 780 represas de rejeito de ferro. É o metal, a máquina, o progresso. Mas é também a ganância, a morte, o regresso. É a estúpida quantidade de lixo tóxico presenteado para nossos filhos, netos, bisnetos e demais gerações, enquanto o ferro produzido já enferrujou na primeira geração. É tanta irresponsabilidade, insensatez, burrice. E dizem que somos o homo sapiens.

É hora de avaliar se a Vale vale a pena, se a extração do ferro é um bom negócio. Ou então, mudar radicalmente a forma de lidar com esta riqueza, caso contrário, nosso futuro será embromado. Claro, precisamos do ferro. Nosso corpo precisa de 14 mg de ferro por dia, riqueza presente em diversos alimentos. Sem isto ou mais que isto, morremos. É preciso equilíbrio, dosagem, sustentabilidade.

Jesus advertiu para não ajuntar riquezas aqui na terra onde a ferrugem destrói, mas, ajuntar riquezas no céu onde a ferrugem não pode destruir (Mt 6.19). É o ferro da ganância que oxida o coração e aniquila a vida sob a lama do pecado. São os rejeitos da morte acumuladas em represas que estouram em tsunami de ódio, fome, destruição.

Gênesis lembra que após criar todas as coisas, Deus assinou em baixo com o “muito bom”. Lá estava o ferro. Mas tudo ficou ruim, tanto que foi com ferro que pregaram Jesus na cruz. Mas deste ferro extraído foi moldada a redenção da humanidade. É a esperança para que as brumas voltem a encobrir o que ficou sob a lama.

Pastor Marcos Schmidt