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Amar os inimigos


Mais um dia na companhia de Jesus, mas, aqui não é caminhando, e sim escutando o seu sermão. O conhecido sermão do monte, ou como alguns o chamam, sermão da planície.

Jesus fala sobre algo realmente difícil: amar os inimigos! Amar o inimigo contraria a lei da natureza, no entanto, é a realidade dos que estão em Cristo. Amar o inimigo é uma característica do Pai Celestial, pois seu amor se dirige a cada uma de suas criaturas.

Ressalto aqui a afirmação de Clemente de Alexandria: “Amar os inimigos não significa que devemos amar a maldade, ou a impiedade, ou o adultério, ou o roubo, mas sim amar, apesar de tudo, o ladrão, o ímpio e o adúltero, não porque ele é pecador e denigre o nome do ser humano, mas porque ele é ser humano e principalmente criatura de Deus”.

Num determinado momento, quando os discípulos sugestionaram a Jesus que fizesse chover fogo do céu, Jesus respondeu: “Não sabeis de que espírito sois?” (Lc 9.55).

Constantemente pedimos: Senhor, volte logo para acabar com tanta maldade. No entanto, esses maldosos, Deus quer salvar e nos envia como igreja a amá-los também (2Pe 3). E esse amor envolve, punir o erro, mas acolher e mostrar compaixão com o errante.

É preciso recordar que entre os ouvintes de Jesus, haviam fariseus e escribas. Esses por sua vez haviam distorcido alei prescrita no Antigo Testamento. Eles, conforme apresenta Mateus diziam: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos” (Mt 5.43). No entanto, essa frase não aparece no AT. É adendo interpretativo dos fariseus e escribas. Ao que Jesus corrige e esclarece que a lei do amor ao próximo é muito mais abrangente do que simplesmente amar as pessoas boas e que gostamos.

Eu sei! Amar os inimigos não é fácil. Por isso é uma característica cristã. Na igreja primitiva foi chamado de exigência peculiar da igreja e algo próprio do cristianismo.

Temos irmãos na fé que infelizmente cometeram erros e pelos tais estão sendo punidos. Alguns estão presos. No entanto, não devemos virar as costas para tais irmãos. Outra coisa, àqueles que assaltaram, ou cometeram adultério, ou assassinaram alguém da nossa família, por mais que sejam considerados nossos inimigos por isso, lembre-se, foram ou são punidos, mas, não podemos esquecer que esses são criaturas amadas por Deus e também precisam ser amados por nós.

Em algumas circunstâncias parece que não basta a punição do Estado (prisão, julgamento e condenação), também queremos punir, sendo que somos chamados para amar.

Se você chegar em casa e ver que alguém está te roubando, bem, esse é seu inimigo. Mas, a sua reação não deve ser outra do que chamar a polícia e permitir que o Estado o puna, mas você, precisa orar por essa pessoa. Mostrar compaixão pela mesma.

O próprio Deus, pegou o homem em delito. Diz o texto: “...naquele dia, quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a sua mulher ouviram a voz do Senhor Deus, que estava passeando pelo jardim. Então se esconderam dele, no meio das árvores” (Gn 3.8).

Deus pegou o homem em delito flagrante, no entanto, o puniu do paraíso, mas, não deixou de amá-lo. Nesse sentido, valem para nós o mandamento do amor ao próximo: “...amem os seus inimigos e façam o bem para os que odeiam vocês” (Lc 6.27).

Como amar o meu próximo? De que maneira? Como expressar esse amor em palavras e ações?

1 - Fazendo o bem aos que nos odeia (v.27)

2 - Deseje o bem para quem lhe amaldiçoar (v.28)

3 – Orar pelos que nos maltratam (v.28)

Quando Jesus exorta a fazer e desejar o bem e também orar por quem nos persegue, calúnia e odeia, nada mais é do que não se deixar guiar pelo sentimento, mas tão somente pela Escritura Sagrada. Nossos sentimentos provêm de uma raiz contaminada pelo pecado. Nosso coração é enganoso (Jr 17.9).

Orar pelos que nos maltratam, nada mais é do que deixar nas mãos de Deus toda a angústia da nossa alma.

Os versos 29 a 30 são exemplos práticos para incutir em nós o amor ao inimigo. Jesus menciona um ataque físico, roubo e uma doação imprevista.

Para quem não gosta de levar desaforo para casa, um tapa na cara é vergonhoso. Ah quem se defende dizendo que Jesus não disse mais nada depois que virar o outro lado, ou seja, para cima dele.

Jesus nos ensina algo extraordinário aqui. Ele diz que não é o tratamento do outro que irá determinar a minha maneira de agir. Minha ação não depende da sua ação ou reação, mas do Espírito que está em mim (Gl 5.16).

O discípulo de Jesus não age determinado pelo comportamento dos outros, mas sim pelo seu mestre.

A perseguição, o ódio, a calúnia, são situações corriqueiras na vida de um cristão. E para esse mundo que se opõe ao evangelho e aos que o pregam e proclamam, Jesus recomenda: “amem os seus inimigos”.

Ao citar o exemplo “se alguém tomar a sua capa...” (v.29), Jesus está enfatizando para que seus discípulos abram mão do que tem de mais precioso e não cometem o pecado do anseio pela vingança.

E recomenda junto a isso a ser solicito, mesmo quando não esteja disposto a ser.

Amar os inimigos, nada mais é do que, um canal pelo qual correm as águas misericordiosas de Deus. Amar o inimigo é fluir o amor que recebo de Deus a cada dia da minha vida.

Amar o inimigo não é um fardo, nem sequer um peso, é estender a mesma mão, a qual temos estendidas para nós.

Ao dizer: “Façam aos outros a mesma coisa que querem que eles façam a vocês” (v.31), Jesus esta enumerando que é preciso fazer, agir com o próximo, da mesma maneira que você quer que faça com você mesmo. Já falamos tanto em direito, o mesmo direito que você tem, o outro também tem. A mesma coisa que você quer seu próximo quer. O que você quer que seja preservado na sua vida, preserve na vida do outro.

Nos versos 32 a 34 é uma exortação contra fazer o bem esperando retribuição por essa prática, ou seja, Jesus condena o fato das pessoas se ajudarem esperando uma contrapartida.

O amor ao próximo será recompensado por Jesus (v.35).

Cuidado com o espírito julgador. Todos nós sabemos que há avaliações. Pais avaliam os filhos. Educadores avaliam seus educandos. Juízes julgam e avaliam réus. Não é esse julgamento e avaliação que Jesus está condenando.

Jesus condena a avaliação ou julgamento que destrói e piora a situação do próximo. A avaliação e julgamento construtivo e que visa ajudar é bem-vindo.

O problema é que muitas vezes, a avaliação ou julgamento que fazemos de outros apenas tem por objetivo nos exaltar e denegrir o outro.

Amar o próximo é uma prática misericordiosa. A mesma prática que Deus em seu filho teve e tem por nós.


Rev. Edson Ronaldo Tressmann

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