Martinho Lutero, sem dúvida um dos melhores pregadores que a cristandade já conheceu.
Lutero vinha pregando em sua igreja de Wittenberg havia anos, mas quanto mais pregava, mais desanimado ficava. As pessoas não entendiam. Elas ouviam de bom grado, mas em vez de serem motivadas, se tornavam apáticas. Lutero observou que, apesar de sua pregação, “ninguém age de acordo com o que ouve; pelo contrário, as pessoas tornam-se tão ignorantes, frias e preguiçosas que é uma vergonha, e elas fazem muito menos que antes”.
Um exemplo: quando Lutero e os outros reformadores pregavam que participar do culto não era mais um ato meritório, a frequência nos cultos diminuiu.
Janeiro de 1530, Lutero estava tão farto, que anunciou à igreja que não pregaria mais. Irônico, mas a verdade é que Lutero entrou em greve. Claro que como todo apaixonado pela pregação, Lutero não ficou muito tempo longe do púlpito.
Um ano antes de morrer, durante uma viagem, resolveu não voltar a Wittenberg, o centro da Reforma. Ele escreveu à sua esposa Catarina: “Meu coração esfriou, de modo que não quero mais ficar lá”. Ele estava irritado porque as pessoas pareciam muito indiferentes a sua pregação. Muitos até zombavam sobre quem lhe havia dado o direito de questionar tanto o que antes era ensinado.
“Estou farto dessa cidade e não quero voltar”, escreveu. Preferiria “mendigar o pão a torturar e irritar minha pobre velhice e meus últimos dias com a sujeira de Wittenberg”. Dentro de um mês, porém, um dos moradores da cidade pediu que Lutero voltasse.
Todos os pregadores ficam desanimados.
O desânimo se deve ao momento em que vivemos. Os pregadores televisivos são tidos como melhores; os pastores das pequenas congregações, sem aparente sucesso, são constantemente interpelados a ouvir e aprender com esses famosos pregadores como se eles fossem a solução de todos os problemas. O relativismo está presente entre nós. Os baais modernos competem pela lealdade do povo.
Que encruzilhada! Entramos em greve ou mudamos? Aprendemos a fazer a diferença, apesar dos desafios?
Qual pastor em seu íntimo que já não pensou:
- Qual é o valor do exercício do ministério nesse lugar?
- vou pregar, mas não me sinto ali, vou ao púlpito e me sinto vazio;
- quem é você para pregar sobre fé?
- devo ou não devo falar sobre determinado assunto? Afinal, as pessoas se chateiam.
Todo pregador vive o dilema: tenho em minhas mãos a espada que fere e ao mesmo tempo paz.
A Bíblia não quer falar para o mundo moderno como se o pregador precisasse ser psicólogo, antropólogo, cientista político e social. A Bíblia quer criar um mundo que não existiria sem que Deus falasse. Deus falou e o mundo veio a existir. E Deus fala e uma nova criação surge: o pecador justificado! Antes de falar sobre o fim, Deus disse para não acrescentar nenhuma palavra e nem tirar qualquer Palavra que fosse da Bíblia (Ap 22.17-18).
Não se pode reduzir o evangelho a uma frase de para-choque de caminhão. É pelo ouvir do evangelho que a comunidade de Deus vai tomando forma.
O livro antigo, para muitos ultrapassado, desconcertante, agressivo, que traz espada e paz, um livro maravilhosamente desafiador, conhece a verdade sobre mim. Sou pecador (por isso a espada) e como tal preciso da redenção em Jesus (paz). Esse livro de Deus: “... é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12).
As histórias do pregador não são dele. Deus dá a mensagem (Bíblia). Deus nos torna mensagem (história, acontecimentos).
Deus tem uma relação de amor comigo e nessa relação de amor a comunicação é vital e para que a comunicação seja perfeita, enviou seu Filho, do qual sou comunicador.
A Palavra de Deus traz guerra e paz!
Nunca estou velho ou inteligente demais para morrer. Todos os dias eu preciso morrer. Tomar minha cruz e seguir Jesus. Que cruz pesada está sendo a de pregador do evangelho! Mas, é tão somente pelo evangelho que Jesus quer transformar o mundo, trazendo guerra e paz!
A Reforma nasceu pelo abrir da Bíblia.
Ao abrir a Bíblia, muitas pessoas infelizmente acomodaram-se. Não podemos simplesmente voltar a velhas práticas pagãs, legalistas para motivar pessoas. É preciso tão somente falar o que Deus fala através da Bíblia – por mais que isso traga a espada, pois, sem a Espada do Espírito, não há paz de Espírito.
Continuemos com o evangelho a respeito da graça de Deus em Cristo – somente o evangelho libertou pessoas ao longo da história da humanidade após a queda em pecado.
Esse evangelho é o poder de Deus para salvação!
Semana após semana, pregação após pregação, pessoas vão sendo ressuscitadas, e vivendo novas vidas pelo evangelho!
A Palavra de Deus incomoda!
Será que as pessoas também matariam Jesus hoje?
Dependendo da pregação de muitos, Jesus seria feito reitor de uma universidade, preletor de conferências, presidente do Brasil. Mas, Jesus é salvador. Não se pode reduzir o cristianismo ao esforço humano para se tornar uma boa pessoa, ou simplesmente alguém entusiasmado pela sociedade!
Jesus foi morto porque ameaçava o mundo constituído. Ele, pela pregação do evangelho continua sendo uma ameaça, principalmente ao diabo que não quer a salvação.
Muitas pessoas não gostam mais da igreja! É por que a igreja ama a instituição e muitas vezes tem se esquecido de Jesus. É melhor pregar para manter uma instituição e uma estrutura, do que falar sobre Jesus, que por vezes traz espada.
Na época da Reforma não foi fácil falar contra uma estrutura. Foi possível por causa do evangelho, o qual se é chamado a pregar, mesmo que traga espada.
O evangelho é uma espada de dois gumes – ele interfere em tudo o mais sobre a terra (Henry Ward Beecher). O evangelho invade todos os cantos e todas as curvas da vida dos ouvintes: sexualidade, pensamentos, sonhos, contas bancárias, pecados secretos, alvos, propriedades, motivações, família e trabalho.
É preciso, como pregador, e isso traz um deserto árido, falar, interferir, mas sem justiça própria. Edificar a igreja, não condená-la. Falar a verdade, mas em amor.
Todo pregador precisa entender que: assim como nos alegramos com os batismos, também nos gloriamos das pedradas, afinal, “a Palavra de Deus traz a paz e a espada”.
Amém!
Rev. Edson Ronaldo Tressmann
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