A térmica de água está quase no final, sinal de que a erva já entregou todo o seu paladar para o mateador. O chimarrão já não está com o sabor do início, mas está, como falam os gaúchos, lavado. O morro de erva, antes tão bem ornado, agora está derribado, com aclives e declives, mexido e remexido, explorado até o último movimento. Sua forma foi sendo alterada com as voltas de idas e vindas da bomba, ou seja, o mateador como um explorador de novas possibilidades de sorvos, em busca de mais algum gole de chimarrão. Sendo assim, o chimarrão que finaliza é, digamos assim, um chimarrão que entregou seu último golpe amargo para adoçar os apreciadores de tal cultura. Das inúmeras rodadas, bebidas, o vai e vem da bomba, o encher da cuia, a obra final é o chima lavado, mencionado nas primeiras linhas.
O chimarrão até pode ser comparado com uma obra de arte, mas inversa. Geralmente um artista, como por exemplo, um pintor, ele possui cores de todos os tipos, pensamentos misturados para chegar ao que ele entende por belo, por obra de arte. E tudo ele faz e organiza para encontrar o que é belo, o que é bonito por meio da pintura, o artista busca um final para sua arte. Já o chimarrão, tão bonito e bem feito logo no início, nos mínimos detalhes: morro de erva bem erguido, bomba devidamente colocada, o vapor da água quente subindo, em síntese, uma obra de arte para os contempladores, no entanto tudo finda quando o ambiente está saciado. O que sobra são ervas escurecidas em uma cuia vazia.
O chimarrão lavado não é sinal de estar sem gosto, todavia é um espaço que acolheu muitos gostos. Cada toque realizado, mexido, espaçado, virado, lavado, enfim, uma arte que vira arte de entrega, arte para o outro. O chimarrão lavado mostra que ele entregou sua arte para o chimarreador ter o gosto, o prazer, usufruir das delícias da erva amarga. O chimarrão é chimarrão quando habita no agrado do outro, naquele que toma, que usufrui do mesmo, o chimarrão é pleno no paladar. Chimarrão é doação. Assim como o Filho de Deus, ele tudo fez por nós, pecadores. Nos concedeu perdão, salvação e uma vida com Deus, quantos tesouros! Tudo por meio da misericórdia e compaixão, Jesus é o nosso suficiente Deus, o único, não há outros deuses. Um Deus doador, amparador, pleno em nossas vidas. Crer em Jesus é o caminho certo para a humanidade, para cada um de nós.
Eu gostaria de dedicar mais um trecho sobre o chimarrão lavado: lavado na cuia, mas íntegro no palato.
Rev Artur Charczuk
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