Espero que um dia estejamos em uma velha cadeira de balanço, vestindo roupas confortáveis com aqueles chapeuzinhos bacanas de vovôs e com uma bacia cheia de gostosuras recém-saídas do forno. E, enquanto nos balançamos, sob o olhar atento dos netinhos, estejamos contando a história da páscoa que aconteceu de portas fechadas. Sim, espero que estejamos todos contando e revivendo a páscoa que foi diferente de todas as outras. Foi o dia em que a saudação de “feliz páscoa, Jesus ressuscitou!” ecoou pelas paredes de nossas congregações, com bancos vazios e um estranho silêncio quando, normalmente, haveriam sons de alegria. Foi a páscoa de cidades e estradas quase vazias. Foi a páscoa de familiares e amigos íntimos distantes uns dos outros. Espero que um dia, com nossas rugas e cabelos grisalhos, estejamos contando como foi a páscoa mais estranha de nossas vidas, uma páscoa de portas fechadas. Somos agraciados por um texto bíblico que nos faz o papel daquele bom vovozinho, encantador com suas histórias, e que também nos conta a história de uma páscoa de portas fechadas. O autor do texto, inspirado pelo Espírito Santo, nos conta a história com propriedade, pois ele estava lá, viveu a páscoa mais diferente de sua vida. Quem nos conta a história desta páscoa é João, o evangelista. Aprecie em João 20.19-23. O trecho bíblico registra a primeira páscoa marcada pela ressurreição de Jesus. Ainda era domingo, o dia em que o Salvador havia saído vivo do seu túmulo. Naquele domingo de tarde eis que os discípulos faziam um distanciamento social, não para evitar um vírus, mas para evitar uma provável perseguição pelos mesmos que, uns dias antes, crucificaram Jesus. Mesmo escondidos e de portas trancadas, eis que eles receberam uma confortadora e animadora visita. Era Jesus! Vivo! Ressuscitado! Vencedor sobre a morte! Ao mesmo tempo em que Jesus deu a paz aos cristãos ali reunidos, lhes deu o Espírito Santo e os enviou ao mundo com a mensagem do perdão dos pecados. Nenhuma porta fechada é capaz de sufocar a ressurreição de Cristo. A enorme pedra que fechava o túmulo de Jesus não foi capaz de conter o milagre da salvação. As portas fechadas que escondiam os discípulos naquele domingo à tarde não foram capazes de impedir que a maior mensagem de consolo chegasse ao coração deles. As portas fechadas da páscoa de 2020 não foram capazes de diminuir a mensagem da ressurreição do Salvador. Aliás, arrisco-me a dizer que as portas fechadas fizeram a mensagem da ressurreição se multiplicar ainda mais em nossas redes sociais. Se o Senhor permitir, um dia estaremos naquela velha cadeira de balanço, cercados de netinhos curiosos a respeito da páscoa que foi celebrada de portas fechadas. E, enquanto eles se fartam com as delicias da vovó e com uma bela xícara de chocolate quente, vamos dizer que mesmo com o templo de portas fechadas, a verdadeira igreja cristã esteve viva e eufórica espalhada por cada lar, não só em nossa cidade, mas ao redor do planeta.
E, em cada lar que se transformou em uma pequena congregação, lá também estava o Salvador - mesmo de portas fechadas, como também foi a primeira páscoa naquele domingo de tarde que o apóstolo João nos contou. Pastor Bruno Serves
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