Digo, com orgulho, que sou filho de um taxista, o seu Rony, lá de Ijuí. Meu pai certamente coleciona diversas histórias entre motorista e passageiros, como correr às pressas com uma gestante a beira de dar à luz, naquelas típicas cenas de cinema. Mas, conforme repassado pelo meu pai, hoje poucas pessoas querem conversar durante uma corrida de táxi. Quase todos ficam em silêncio, não por estar concentrados ou admirando a cidade, mas por estarem com os olhos vidrados em seus smartphones. E, quando puxam assunto, é pedindo se no carro há wi-fi.
Uma grande empresa que trabalha com motoristas de aplicativo criou uma opção para simplesmente silenciar o motorista. E, claro, paga-se mais caro para que o silêncio reine dentro do carro. Quem contrata esta forma de serviço não quer falar, não quer ouvir e nem ser ouvido. Como diz a Palavra: “há tempo de ficar calado e tempo de falar” (Eclesiastes 3.8). Todos temos nossos dias em que o que mais queremos é ficar calados, seja dentro de um carro, seja no sofá da sala ou na cadeira do jardim. Mas também há tempo, e muito, de falar, de interagir, de ouvir e de ser ouvido. Isto é ser um ser humano!
Observando a opção que quer silenciar o motorista, pergunto-me se isto é algo eventual ou se é mais um retrato de uma sociedade cheia de ilhas sociais. É o motorista que é pago para não conversar, é o filho que está trancado no quarto sobrevivendo à base de wi-fi, é o vizinho que nem sabemos o nome, é o irmão de nossa congregação que chega e sai sozinho do culto sem ninguém para perguntar como ele está se sentindo.
A fé cristã nos convida a olhar para os lados, a sair de nossas ilhas que nós mesmos criamos e nelas nos acomodamos. “Vocês são a luz do mundo. Ninguém acende uma lamparina para coloca-la debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão na casa”, disse o Salvador Jesus em Mateus capítulo 5. Somos os ouvidos de Jesus para aqueles que precisam falar e desabafar. Somos as mãos de Jesus para dar amparo aos que estão fracos. Somos os olhos de Jesus para dar atenção aos que se sentem invisíveis no meio da multidão. Somos a presença de Jesus para aqueles que estão longe da verdade que liberta.
E para sermos luz neste mundo e sal nesta terra não há em si um espaço específico para que isto aconteça. A fé cristã nos capacita a agir em um consultório médico, no salão de beleza, no futebol com os amigos, na festa de formatura, na fila do mercado e também dentro de um carro. As oportunidades estão aí, com conhecidos ou não, para amarmos com o amor de Jesus, dentro e fora de nossas igrejas.
Então fica a dica: saiamos de nossas ilhas de isolamento e silêncio e amemos com o amor de Jesus.
Pastor Bruno Serves
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