O tempo vai dizer se a incompassível lei de trânsito contra a bebida é boa ou não. Num país embriagado por coquetéis de legislações, pode ser outra regra cambaleante sob os efeitos sonolentos de uma fiscalização ineficiente. O assunto é polêmico, e também tem implicância no terreno religioso. Afinal, enquanto denominações já condicionam tolerância zero no uso da bebida alcoólica em qualquer situação, outras toleram liberdade no caminho da moderação. É o caso da minha igreja que não julga o uso responsável de bebida alcoólica, e que até oferece vinho na Santa Ceia. Aliás, aqui começa um problema para nós, cristãos luteranos, porque aquele pequeno gole que ingerimos na comunhão eucarística do altar já pode causar um terrível transtorno lá fora, caso formos abordados numa ação policial com bafômetro. Em todo o caso, se é para acabar com os “bebuns” do volante e reduzir a carnificina nas estradas, que seja bem-vinda tal “lei seca”. Os dados confirmam que o álcool, além de causar um prejuízo anual de 70 bilhões de reais ao país no tratamento de doenças, acidentes de trânsito, violência, ausência no trabalho etc, é culpado por quase a metade dos acidentes de trânsito.
No tempo bíblico em que carros eram puxados sob o bafo dos cavalos, o exagero na bebida provocava “mortes” no próprio culto cristão. Conforme costume da igreja primitiva, a Santa Ceia acontecia numa confraternização com comida e bebida. No entanto, Paulo escreve para a congregação de Corinto: Nas instruções que agora vou dar a vocês, eu não posso elogiá-los... Quando se reúnem, não é a Ceia do Senhor que vocês comem... Enquanto uns ficam com fome, outros chegam até a ficar bêbados... e alguns já morreram (1 Coríntios 11). O texto registra as imprudências: embriaguez, brigas, falta de amor, egoísmo. Em sinal de alerta, o apóstolo aponta para os danos: Pois a pessoa que comer do pão e beber do cálice sem reconhecer que se trata do corpo do Senhor, estará sendo julgada ao comer e beber para o seu próprio castigo (1 Coríntios 11.29).
Tolerância zero, infração e castigo são palavras que também surgem quando o assunto é a lei de Deus. Não existe retorno, o único caminho é seguir reto. Sejam perfeitos, diz Jesus, assim como é perfeito o Pai de vocês que está no céu (Mateus 5.48). Quem quebra um só mandamento da lei é culpado de quebrar todos, lembra Tiago (2.10). Por isto, no teste do bafômetro divino, ninguém escapa: Não há ninguém que faça o bem, não há ninguém mesmo (Romanos 3.12). Seria o precipício sem a ponte se não fosse o supremo tribunal divino intervir e fazer Cristo soprar o bafômetro no lugar dos transgressores. É o Evangelho – a boa nova. Ou como diz a Bíblia: Mas, pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita todos por meio de Cristo Jesus, que os salva (Romanos 3.24).
Na verdade, em âmbito espiritual, segue-se no caminho da Lei com tolerância zero, ou no caminho de Cristo. Eu optei por este que me dá livre arbitro, consciência tranqüila e responsabilidade. E mesmo quando ninguém tem o direito de me julgar por causa de comida ou bebida (Colossenses 2.16), em outra via, sei que todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm (1 Coríntios 10.23). Já no âmbito desta nova lei de trânsito, é o bafômetro que vai dizer se estou livre para seguir no volante.
Rev. Marcos Schmidt
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