Recebi a seguinte pergunta:
“Lendo Hebreus fiquei em dúvida e curiosa. Na citação que li: Hebreus 6.4,6. Que fala da fé de quem se desviou dela, não pode mais retornar.
Devo não ter entendido.
Podes me Ajudar? E carecendo isso.
Vamos tentar ajudar, então:
Uma pequena introdução:
A Carta aos Hebreus foi escrita a cristãos que estavam correndo o risco de abandonar a sua fé em Cristo (6.4). Estavam desanimados (12.12-13), e alguns deles já tinham deixado de assistir aos cultos da igreja (10.25). Essas pessoas, ao que parece, eram judeus que tinham se convertido a fé crista, mas que, possivelmente por causa de perseguição, estavam pensando em voltar a religião judaica. Se fizerem isso, adverte o autor, eles se tornarão inimigos de Cristo e, por assim dizer, estarão crucificando outra vez o Filho de Deus (6.6). O autor sabe que os seus leitores ainda não tinham negado Cristo (6.9-12), mas enxerga, melhor do que eles, o grande perigo que correm. “Vamos em frente!”, diz ele (6.3), dando aos cristãos daquele tempo uma lição que vale para os cristãos de todos os tempos.
O texto completo é do versículo 1 até o 12 (Versão Almeida Revista e Ataualizada):
Hebreus 6:
1 Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus,
2 o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno.
3 Isso faremos, se Deus permitir.
4 É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo,
5 e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro,
6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.
7 Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus;
8 mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.
9 Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira.
10 Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos.
11 Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança;
12 para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas.
Sempre se deve olhar o texto da seguinte maneira:
1. Versículo
2. Capítulo
3. Livro
4. Tipo de livro (no caso Epístolas)
5. Testamento
6. Bíblia
Ou seja, tentar ver o contexto mais amplo, quanto possível.
É muito arriscado tomar um texto isoladamente.
O autor está muito preocupado com as pessoas que estão abandonando a Cristo, por isso ele é tão enfático.
Não há salvação para quem voltar atrás, depois de haver posto a sua fé em Cristo (6.4-8). O autor não mede palavras para mostrar a esses cristãos o grande perigo que estão correndo (2.2-3; 8.12; 10.26-31; 12.16-17). Ele cita o exemplo dos israelitas que não conseguiram entrar na Terra Prometida porque não tinham fé (3.7-4.11). Assim, também, é possível que esses cristãos não entrem na Terra Prometida da eternidade.
Quanto à pergunta em questão, é o seguinte:
Como... pessoas que abandonaram a fé podem se arrepender de novo? Esta severa advertência vem acompanhada de lembretes a respeito de tudo de bom (vs. 4b-5) que Deus tem preparado para aqueles que creem e têm paciência (v. 12). O dom do céu Isto é, a salvação dada por Deus.
É impossível levar essas pessoas a se arrependerem de novo. Não se trata de pessoas que cometeram pecados de fraqueza, comuns na vida do cristão, mas de pessoas que abandonaram a fé.
Ou seja, não é aquele pecado que cometemos, muitas vezes sem conseguir evitar, mesmo que tentemos. É o abandono intencional da fé. Não se trata, por exemplo, daqueles que, em tempo de perseguição, para salvar sua vida ou salvar a família, acabaram negando sua fé... Mesmo que ainda tivessem a fé. Estes, depois de passada a perseguição, foram perdoados e recebidos novamente pela igreja.
Hb 10.26-29: destacando especialmente o 26 e o 29:
26Pois, se continuarmos a pecar de propósito, depois de conhecer a verdade, já não há mais sacrifício que possa tirar os nossos pecados. 27Pelo contrário, resta apenas o medo do que acontecerá: medo do Julgamento e do fogo violento que destruirá os que são contra Deus. 28Quem desobedece à lei de Moisés é condenado sem dó à morte, se for julgado culpado depois de ouvido o testemunho de duas pessoas, pelo menos. 29Então, o que será que vai acontecer com os que desprezam o Filho de Deus e consideram como coisa sem valor o sangue da aliança de Deus, que os purificou? E o que acontecerá com quem insulta o Espírito do Deus, que o ama? Imaginem como será pior ainda o castigo que essa pessoa vai merecer!
A Carta aos Hebreus se dirige a pessoas que correm o perigo de abandonar a fé. Esse perigo é real, e essas pessoas podem acabar se perdendo (6.6). Por isso, o autor faz uma severa advertência (6.4-6), talvez uma das mais severas em todo o NT (Hb 10.26-31). Ao mesmo tempo, ele está certo de que os cristãos hebreus têm as melhores bênçãos que vêm da salvação (6.9) e que vão continuar com entusiasmo até o fim, para receber o que esperam (6.11). A vida cristã é uma caminhada que não para: “Vamos em frente!”, exorta o autor (6.1,3).
Sem o arrependimento, não podem receber o perdão de pecados (Mt 12.32; Mc 3.29; 1Jo 5.16). O autor diz isso não porque deseja levar seus leitores ao desespero, mas porque quer evitar que se tornem preguiçosos na fé (v. 12).
Pesquisas na Bíblia NTLH de Estudo e na Almeida Revista e Atualizada.
Rev. Jarbas Hoffimann
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