O sermão do apóstolo Pedro (vv. 15-36) nos revela o que aconteceu no dia de Pentecostes: cumprimento da promessa de Deus. Os vv. 42-47 mostram os efeitos de Pentecostes.
Antes de tudo é preciso lembrar que a igreja não iniciou-se no dia de pentecostes. A igreja como povo de Deus remonta as páginas do antigo testamento e podemos encontra-la já em Gênesis. Pentecostes marca a ação de um corpo motivado, ativado pelo poder do Espírito Santo. É um corpo cheio do Espírito.
Lucas, o médico, relata nos vv. 42-47 as evidências da presença do Espírito no corpo que é a igreja. “Perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2.42). Efeito colateral da ação do Espírito Santo!
Naquele dia de Pentecostes o Espírito Santo abriu uma escola em Jerusalém. Os professores eram os apóstolos que Jesus havia escolhido e instruído. O Espírito Santo agora os havia capacitado. Os primeiros alunos matriculados foram 3 mil.
O que merece destaque é que mesmo tendo recebido o Espírito Santo, os discípulos, bem como os crentes, não desprezavam os mestres humanos. Eles perseveravam na doutrina que lhes era ensinada.
O ensino dos apóstolos chegou a nós no Novo Testamento. O que é o Novo Testamento?
Efeito colateral da ação do Espírito Santo! “perseveravam na comunhão” – Koinonia - koinos (comum).
Pode-se observar a koinonia em dois sentidos. A comunhão que temos em comum com nosso Deus Pai, Filho e Espírito Santo (1Jo 1.3; 2Co 13.13). Dessa comunhão com Deus, temos comunhão com outras pessoas (Jo 14.20; 15.4-6; 17.11,20-23). A koinonia expressa o que partilhamos uns com os outros, tanto no que damos como o que recebemos.
Lucas, ao fazer referência a koinonia, deseja expressar a generosidade de uns para com os outros. Veja o tamanho da generosidade (At 2.44-45). Ao ler esses versos ficamos perturbados. Afinal, será que cada crente e cada congregação deve seguir literalmente esse exemplo? Porque esse costume?
A leste de Jerusalém, líderes essênios da comunidade de Qumran se comprometiam a compartilhar as propriedades. De acordo com um documento de Damasco, todos os membros da aliança, onde quer que morassem, eram obrigados a “socorrer o pobre, o necessitado e o estrangeiro”. Mas, o candidato à iniciação na comunidade monástica aceitava uma disciplina mais rigorosa: “suas propriedades e seus ganhos deviam ser entregues ao tesoureiro da congregação... suas propriedades absorvidas...”
Em épocas diferentes da história da igreja muitos adotaram essa prática. Acredito também que ainda hoje, Jesus tenha chamado muitos de seus discípulos para uma vida de pobreza total voluntária, assim como fez ao jovem rico. No entanto, nem Jesus, nem os apóstolos proibiram as pessoas de possuírem propriedades privadas. A prática da igreja não é a prática civil do casamento: comunhão total ou parcial de bens. A prática da venda e doação total em Jerusalém era voluntária.
Efeito colateral da ação do Espírito Santo! “o partir do pão de casa em casa”. Observe, nem todos haviam vendido suas casas.
Os verbos “vendiam e distribuíam” está no tempo imperfeito, indicando que a venda e a partilha eram ocasionais, em resposta às necessidades específicas.
Apesar de ser voluntário – é preciso lembrar que todo cristão é chamado à generosidade, em especial aos pobres e necessitados.
O Antigo Testamento é especial nesse assunto. Havia uma forte tradição no cuidado com o pobre. Deus ordenou que fosse dado a décima parte aos levitas que viviam apenas do ensino da lei de Deus, ao estrangeiro, ao órfão e a viúva (Dt 26.12).
A igreja cheia do Espírito se apresenta pelo socorro ao necessitado (At 2.45; 4.34-35; 1Jo 3.17).
A comunhão cristã pode ser resumida na frase: cuidado cristão.
Crisóstomo (347- 407) resumia brilhantemente essa parte de Atos dizendo: “era uma congregação angelical, não consideravam exclusivamente deles nem uma das coisas que possuíam. Imediatamente, foi cortada a raiz dos males ... ninguém acusava, ninguém invejava, ninguém tinha ressentimentos; não havia orgulho nem desprezo ... O pobre não sabia o que era vergonha, o rico não conhecia arrogância”.
Não podemos escapar do desafio desses versículos. A necessidade é uma pregação de lei a nós que possuímos bens e pouco ou nada fazemos.
Efeito colateral da ação do Espírito Santo! “perseveravam no partir do pão e nas orações”.
A comunhão não é só expressa no cuidado mútuo e financeiro. Afinal, os pobres que não podem ajudar com a venda das propriedades, podem socorrer através das orações. A comunhão é expressa de uma maneira muito simples: no culto em conjunto. Quer seja um culto formal (templo) ou informal (casa).
Observe que os primeiros cristãos não abandonaram a igreja institucionalizada (v.46 “unânimes no templo”).
Os cristãos louvavam a Deus tanto no culto formal como no informal. Em qualquer lugar estavam glorificando a Deus e apresentando dessa maneira sua comunhão com todos e principalmente com Deus.
Esse versículo de maneira nenhuma aponta uma estratégia missionária ou que é preciso fazer assim. O importante é a comunhão, seja ela no templo ou na casa.
A igreja era alegre e reverente (v.46). Por “singeleza de coração” entende-se “sinceridade de coração”. Recorde que a alegria é um dos frutos do Espírito (Gl 5.22).
Cada culto - quer seja num templo ou numa casa - precisa ser uma alegre celebração dos atos poderosos de Deus através de Jesus e do Espírito Santo.
“Em cada alma havia temor” (At 2.43). Deus havia visitado a cidade. Havia sido crucificado, mas ressuscitou e pelo poder do Espírito Santo passou a testemunhar essa verdade. Todos se curvaram diante desse Deus.
É preciso recordar que tudo o que ouvimos até agora é o retrato interno da igreja.
O v. 47 mostra que a igreja não se ocupa apenas do estudo, da ajuda mútua e da adoração. Ela também estava ocupada em evangelizar. O Espírito Santo é missionário. O livro de Atos nada mais é do que a expansão da fé através do testemunho missionário no poder do Espírito... O Espírito que atua na Palavra, na Santa Ceia, leva a igreja a testemunhar incessantemente. A igreja é sempre missionária.
Pr. Edson Ronaldo Tressmann
Comments