
O ressentimento é um fato que não concorda em ser historicizado na vida do indivíduo, que não aceita o tempo pretérito, destarte, é uma ferida em contínua revivescência. Por consequência, não ocorre uma ruptura entre o que passou e o agora, mas apenas ensaios frustrados. É o passado querendo encontrar sentido no presente, é um rancor não elaborado, geralmente provocado por algum tipo de desentendimento, uma ofensa, quem sabe uma traição, enfim. E o que aproxima as três situações citadas, são os traumas produzidos. Através das reminiscências, reflexos das dores, a pessoa perdura em uma contínua reprodução, resumidamente: o passado é tido como uma incessante sombra que aplaca a luz de uma perspectiva diferente para um futuro a ser erigido. As memórias estagnadas regulam um sentimento que atribui ao outro a responsabilidade pelo sofrimento sucedido. O ressentido não consegue atribuir perdão para aquele que o vitimou, pelo contrário, ele vive em uma insistente queixa, permeada de fantasias criminatórias e cogitações vingativas.
A grande questão é que o ressentimento é um auto- envenenamento psíquico. Como a raiva, digamos assim, ficou impossibilitada de exercer sua função contra o objeto, o seu teor se volta para o ofendido. Produzindo o sentimento de culpa, isto é, usualmente é mais ou menos assim: eu deveria ter dito isso, deveria ter usado a palavra tal, entonação de voz assim, etc. E o ciclo subsiste, o ressentimento vai sendo alimentado com a permanência.
Rev. Artur Charzuck
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