Mc 1.14-20
É bom estar perto de quem a gente gosta. Pessoas de quem gostamos nos fazem bem, nos trazem prazer e alegria, porque preenchem uma necessidade existente em cada ser humano: a necessidade de amar e ser amado. Por isso, é natural que cada um de nós fique feliz ao iniciar e cultivar relacionamentos de amor ou amizade e triste se esses relacionamentos são prejudicados de alguma forma. Ficamos felizes quando, depois de um longo dia de trabalho, chegamos em casa e encontramos a família nos esperando. Ficamos felizes quando reencontramos amigos ou parentes que há muito tempo não víamos. Por outro lado, ficamos tristes, com saudades e com um sentimento de vazio quando estamos distantes de pessoas assim. Muito mais tristes ainda, ficamos quando perdemos essas pessoas.
Isso é assim porque Deus nos criou para nos relacionarmos uns com os outros, cada um realizando a sua função, cada um completando na vida do outro aquilo que o outro não consegue alcançar sozinho. E talvez a necessidade de amar e ser amado seja a principal, pois Deus é amor e nós somos frutos do amor dele. Fluindo desta verdade, ele nos fez para amar a ele acima de tudo e aos outros como a nós mesmos, conforme disse Jesus que os discípulos deveriam fazer.
Mas, nós bem sabemos, nós estragamos tudo. Em Adão, todos nós pecamos, conforme diz o apóstolo Paulo: “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12).
Por isso, na vida de cada ser humano há um vazio existente por causa da separação de Deus. Muitos tentam preencher esse vazio buscando satisfação em bens materiais, em vícios, em prazeres passageiros e coisas semelhantes. Outros, buscam auxílio em religiões falsas, que não trazem consolo verdadeiro porque não falam do Deus verdadeiro.
De outra forma, o pecado também estragou o relacionamento com as outras pessoas. Até mesmo os nossos melhores relacionamentos não são vivenciados em perfeito amor, sendo marcados por imperfeições. Por causa do pecado que habita em nós, somos capazes de ofender e machucar pessoas de quem gostamos; somos capazes de destruir relacionamentos; podemos ter dificuldades para estabelecer e manter relacionamentos; podemos ter dificuldades de nos relacionarmos com vizinhos e parentes.
Tudo isso, aponta para uma verdade fundamental: por natureza, nós estamos distantes de Deus. Mas, Jesus trouxe uma realidade diferente para dentro do mundo. Quando começou o seu ministério na Galileia, ele declarou: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo” (Mc 1.14).
É interessante que, de acordo com essas palavras, podemos perceber uma semelhança e uma diferença entre nós e Deus. A semelhança é que Deus também gosta de ficar perto de pessoas queridas, assim como nós gostamos. No entanto, a diferença é que as pessoas de quem nós gostamos são pessoas que nos parecem agradáveis, pessoas que podem trazer coisas boas pra nossa vida. Sendo assim, se essas pessoas começarem a causar problemas pra nós, é possível que deixemos de gostar delas. Por outro lado, Deus não gosta das pessoas porque elas têm alguma coisa boa pra apresentar a ele. Conforme diz em sua Palavra, Ele gosta das pessoas do mundo inteiro, mesmo que todas elas sejam pecadoras e merecedoras unicamente de castigo e condenação. Desta forma, mesmo que elas causem decepção o tempo todo, ele não deixa de amar e cuidar de nenhuma delas, querendo a salvação de cada uma.
Por isso, Jesus é o Rei que trouxe o Reino de Deus pra perto das pessoas, pois Deus as ama e quer salvá-las da condenação eterna. Ele trouxe esse Reino para preencher a necessidade que cada um tem de saber que é amado, apesar de suas imperfeições. Ele trouxe esse Reino para colocar de novo as pessoas perto de Deus.
Tendo feito isso, ele tem um convite a fazer para todos: “arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1.14). Ele faz esse convite porque não há outro caminho para desfrutar do reinado gracioso de Deus. É preciso que haja reconhecimento de quem nós somos e merecemos e de que nós precisamos de ajuda. Quando isso acontece, aquilo que ele fez por nós quando veio ao mundo nos leva a perceber que é somente ele que nos pode dar essa ajuda; que é somente ele que pode nos dar um amor sincero, puro e verdadeiro, por meio do perdão conquistado no seu sofrimento e morte.
Esse convite de Jesus fez efeito em nós, no dia do Batismo. Naquele dia, o Espírito Santo, operou em nós o arrependimento e nos fez apegar em Jesus. Desde então, Deus está perto de nós e temos desfrutado de seu governo amoroso e gracioso em nossas vidas. Desde aquele dia, por meio da Palavra e dos Sacramentos, o Espírito Santo nos faz ouvir de novo o convite de Jesus, resolvendo o nosso problema no relacionamento com Deus, porque nos coloca de novo perto de Deus.
Além disso, esse convite de Jesus também nos ajuda no nosso relacionamento com o próximo. Pois esse não é um convite só para crer nele, mas também para falar dele para mais pessoas. No texto citado acima, Jesus convida Simão e André para torná-los pescadores de homens. O mesmo chamado vale para nós. É isso o que o próprio apóstolo Simão Pedro nos diz na primeira carta que ele escreveu: “vocês são a raça escolhida, os sacerdotes do Rei, a nação completamente dedicada a Deus... escolhidos para anunciar os atos poderosos de Deus, que os chamou da escuridão para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9).
A maneira de atendermos a esse chamado é vivermos como cidadãos do Reino de Deus. E nós fazemos isso praticando o amor que predomina no Reino de Deus, em palavras e ações.
Assim como Jesus se aproximou de nós, somos chamados a nos aproximar de outras pessoas. Assim como Jesus perdoou infinitamente, somos chamados a perdoar. Assim como Jesus foi manso, humilde, paciente, e compassivo, nós somos chamados a ser também.
Como bem sabemos, o Reino de Deus só se consumará no futuro, quando vier pela segunda vez. Mas nós que cremos em Jesus, já somos cidadãos desse Reino. Por isso, somos chamados para viver coerentemente com isso. Somos chamados a manifestar nos nossos relacionamentos, já aqui neste mundo, a vida perfeita que está por vir. O céu é o lugar onde só haverá amor, bondade, justiça, honestidade, misericórdia, compaixão e tudo o que é puro e correto. Por isso, se nós já somos cidadãos do Reino dos céus, somos chamados por Cristo a manifestar todas estas coisas. Fazendo isto, podemos ser instrumentos para fazer outras pessoas acreditarem que o Reino de Deus está próximo. É desta forma que nossos relacionamentos com outras pessoas, que também afetados pelo pecado, podem ser restaurados àquela condição que foi criada por Deus.
No entanto, se muitas vezes não manifestamos as virtudes celestiais em nossas vidas, isso não precisa nos deixar desesperados ou desanimados. No texto que lemos, Jesus não disse para os discípulos: “vocês vão se tornar pescadores de homens!” O que ele disse foi: “eu vos farei pescadores de homens” (v.17). Com isso Jesus estava querendo dizer que os discípulos seriam treinados para ser suas testemunhas. Da mesma forma, nós não nos tornamos testemunhas perfeitas do Evangelho de Cristo desde o momento em que o Espírito Santo nos leva à fé nele. Em vez disso, somos treinados nessa missão, num treinamento que provavelmente dura a vida toda, pois nunca conseguimos chegar à perfeição aqui nesse mundo. Além disso, o que Jesus disse significa também que ele é que realizaria a obra. Os discípulos seriam apenas instrumentos. Da mesma forma, nós somos lembrados de que Jesus é quem faz a obra através de nós. Somos apenas instrumentos nas mãos dele. Por isso somos convidados a confiar que ele usa nossas palavras e ações, mesmo que imperfeitas, para realizar a expansão do Reino de Deus.
Se é bom estar perto de pessoas especiais, ainda melhor é estar perto de Deus. E nós podemos estar certos de que Ele está sempre perto de nós. Ele nos convidou para esse momento de culto, a fim de se aproximar de nós na Palavra e na Santa Ceia. Do mesmo modo, quando sairmos deste lugar, ele nos convidará para a vida diária, nos dando a certeza de que estará do nosso lado em todos os momentos, com amor e graça, e usando-nos como instrumentos para mostrar pra outras pessoas que ele está perto delas. Que assim seja, em nome de Jesus. Amém!
Rev. Timóteo Felipe Patrício
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